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E se os mosquitos
sumissem do mundo?

Por Nathalia Brunetto

A intensa urbanização do mundo moderno oferece condições favoráveis à proliferação de diversas espécies de mosquitos, como o Aedes aegypti, seja pelo descarte de materiais não biodegradáveis na natureza, pelas mudanças climáticas ou pela ausência de saneamento adequado em determinados locais. Estes pequenos animais, capazes de transmitir vários tipos de agentes patogênicos, são responsáveis pela morte de cerca de 730 mil pessoas ao redor do mundo anualmente, segundo a OMS. Na realidade existem 150 mil espécies de Diptera (as moscas e mosquitos) compreendidas em 188 famílias. Os Diptera que geralmente chamamos de mosquitos pertencem a sub-ordem Nematocera, com cerca de 36 famílias. Apenas algumas delas incluem mosquitos hematófagos (os que sugam sangue) e mesmo dentre eles, poucos possuem a capacidade de transmitir doenças ao ser humano. As espécies de maior importância sanitária estão compreendidas na família Culicidae, que inclui gêneros como Culex (pernilongos ou muriçocas), Anopheles (vetores da malária) e Aedes (vetores da dengue, zika, chikungunya e febre amarela) e Ceratopogonidae, que inclui os mosquitos transmissores da Leishmaniose, pelo menos aqui na América do Sul.

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Mas então, o que será que aconteceria se os mosquitos desaparecessem? Assim como todos os seres vivos, esses insetos fazem parte do equilíbrio do ecossistema. Em ambientes aquáticos, diversos animais se alimentam de mosquitos em seus estágios imaturos de vida - as larvas e pupas. Logo, sem os mosquitos, haveria menos alimento para os peixes e outros animais, desequilibrando a teia alimentar. As larvas, por sua vez, alimentam-se principalmente do microplâncton constituído de partículas de matéria orgânica presente nas águas, atuando como filtradoras. Algumas podem ainda exercer o papel de predadoras, alimentando-se de organismos vivos, incluindo larvas de outras espécies. A sua ausência poderia levar a água a se tornar mais suja, além de ocasionar um descontrole no tamanho da população das presas, impactando diretamente o ecossistema daquele habitat.

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Na tundra, um bioma muito frio e seco localizado no hemisfério norte, muitos animais necessitam dos mosquitos como uma importante fonte de alimento durante determinada época do ano, então o seu desaparecimento causaria um forte impacto na cadeia alimentar do local.

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Quando adultos, os mosquitos se alimentam de néctar e seiva das plantas, que fornecem energia para sua sobrevivência. Apenas para que seja possível produzir ovos, as fêmeas - em algumas espécies - necessitam de proteínas, que são obtidas do sangue de outros animais, como os humanos. Ao pousar nas flores para obter o alimento, os mosquitos acabam carregando pólen em seu corpo, desempenhando um importante papel de polinizadores em diversas plantas. Entre as plantas polinizadas por eles, está o cacau - matéria prima do tão adorado chocolate. Durante os períodos em que as flores do cacaueiro estão mais receptivas à polinização, suas glândulas especializadas liberam óleos atrativos para os mosquitos dos gêneros Dasyhelea e Forcipomyia (família Ceratopogonidae), seus principais polinizadores. Outras frutas comuns do cotidiano também têm suas flores visitadas por esses animais, inclusive pelo Aedes, o qual já foi observado pousando em cerejeiras e ameixeiras. Algumas plantas ornamentais são também exemplos de flores que dependem de mosquitos para sua fertilização, como as orquídeas Epidendrum, que são polinizadas por mosquitos da subfamília Limoniidae (família Tipulidae). Assim, sem esses insetos, é possível que houvesse uma redução em algumas variedades de plantas do nosso dia a dia.

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É preciso ressaltar que os verdadeiros causadores das doenças transmitidas pelos mosquitos são os microrganismos que eles carregam, ou seja, os mosquitos são apenas transportadores da doença, e não os responsáveis em si - além de que nem todos os mosquitos picam outros animais. Um mundo sem eles poderia parecer mais seguro para os seres humanos, mas devemos lembrar que cada organismo constitui uma peça de um sistema do qual também fazemos parte.

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REFERÊNCIAS:

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