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Turismo e arboviroses: turistas não se atentam a precauções para evitar picadas de mosquitos

Apesar de conhecermos as precauções recomendadas para evitar picadas de mosquitos e a transmissão de arboviroses, será que nos momentos em que estamos relaxando, como em viagens, nós tomamos os cuidados necessários? Um estudo realizado na Nova Zelândia afirma que boa parte dos viajantes não tomam.


A Nova Zelândia é um dos principais destinos turísticos do mundo, sendo que o maior fluxo de viajantes é entre a Nova Zelândia e outros países da Oceania, como Austrália, Indonésia, Fiji, Samoa, Tonga e Ilhas Cook. Esse fluxo é relevante pois, enquanto a Nova Zelândia não apresenta, até hoje, casos de transmissão local de arboviroses, os países citados possuíram, desde os anos 2000, surtos de arboviroses transmitidas por mosquitos, como dengue (DENV), Zika (ZIKV), chikungunya (CHKV) e vírus do Rio Ross (RRV).

O estudo avaliou os dados de casos importados de arboviroses entre os anos de 2001 e 2017, para entender o impacto das viagens e as precauções tomadas pelos viajantes para evitar picadas de mosquito. Os dados foram obtidos a partir de formulários de registros de casos de arboviroses, aplicados pelo profissionais do Instituto de Ciência e Pesquisas Ambientais (Institute of Environmental Science and Research), que é responsável pelo monitoramento de doenças de notificação obrigatória pelo Ministério da Saúde da Nova Zelândia. Os questionários incluem questões sobre as precauções utilizadas pelos viajantes para evitar picadas de mosquitos, incluindo a regularidade na qual as recomendações propostas pelo Ministério eram seguidas. 

Os resultados do estudo demonstraram que de um total de 1912 pessoas infectadas por arboviroses, cujos casos foram notificados entre 2001 e 2017, apenas 1004 (52,2%) utilizaram algum tipo de precaução para evitar picadas de mosquito. Porém, apenas 1,2% dos casos reportaram ter sempre utilizado todas as precauções listadas no formulário. Entre as precauções, a empregada com maior regularidade foi o uso de telas ou ar condicionado em acomodações (39,2%), seguida pelo uso de repelente (29%), uso de mosquiteiros (15%) e uso de roupas adequadas (8,2%).


No geral, os autores verificaram que o aumento de casos importados estava associado a surtos nos países da Oceania com os quais a Nova Zelândia tem um maior fluxo de visitação. Por exemplo, em 2001, dos 93 casos de dengue registrados na Nova Zelândia, 63% visitaram ou viviam em Samoa, onde ocorria um surto de dengue. Já em 2014, a Nova Zelândia teve um surto de casos de Zika virus, e dos 57 casos, em 93% deles os viajantes visitaram ou viviam nas Ilhas Cook, onde ocorria um surto.


Embora a Nova Zelândia ainda não registre casos locais de infecções por arboviroses, esse cenário pode mudar. Como discutido neste post, a introdução dessas doenças em novos territórios está diretamente ligada à mobilidade humana e ao aumento das áreas habitáveis para os mosquitos transmissores, resultado das mudanças climáticas. Com o aquecimento global, regiões anteriormente livres desses vetores podem se tornar adequadas para sua reprodução, permitindo que os vírus se estabeleçam em novos locais. Isso representa um risco crescente, especialmente para países que não possuem histórico de transmissão local e, portanto, não estão preparados para lidar com surtos.


Além disso, o turismo desempenha um papel crucial na disseminação dessas doenças. Qualquer pessoa que viaje para áreas onde arboviroses são endêmicas pode, inadvertidamente, carregar o vírus ao retornar para casa ou visitar outro destino. Esse processo destaca a importância de medidas preventivas, tanto individuais quanto coletivas, para reduzir o risco de infecções e evitar a introdução de novos surtos em locais vulneráveis.

Por isso, é fundamental que os viajantes estejam atentos às recomendações de saúde ao planejar suas viagens. Entre as medidas preventivas, destacam-se a vacinação, quando disponível, e ações simples, como o uso de repelentes, roupas que cubram o corpo, mosquiteiros e a escolha de acomodações com telas de proteção ou ar-condicionado. Além disso, é importante conhecer os riscos específicos do destino e adotar uma postura responsável, entendendo que a prevenção não protege apenas o indivíduo, mas também as comunidades que ele visita e as que retorna.


Portanto, adotar medidas preventivas contra picadas de mosquitos é uma responsabilidade compartilhada. Com o aumento das viagens internacionais e a expansão dos vetores devido às mudanças climáticas, evitar a transmissão de arboviroses não se limita à proteção individual, mas também contribui diretamente para reduzir o risco de surtos em outras regiões e proteger a saúde pública.



REFERÊNCIAS


AMMAR, Sherif E. et al. New Zealand travellers to high-risk destinations for arbovirus infection make little effort to avoid mosquito bites. Journal Of The Royal Society Of New Zealand, [S.L.], v. 53, n. 2, p. 209-218, 26 maio 2022. Informa UK Limited. http://dx.doi.org/10.1080/03036758.2022.2071951.


ECOLOGIA E SAÚDE. A chegada da dengue aos Estados Unidos das Américas 

(EUA) é responsabilidade dos turistas?. [S.l.]. 17 nov. 2024. Instagram: @ecologiaesaude. Disponível em: https://www.instagram.com/p/DCfBSLzpSBD/?igsh=MWdybXhpZWM3YnozMA==. Acesso em: 02 nov. 2024.



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