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Compostos extraídos de plantas podem ser usados para combater o mosquito causador da dengue?

Atualizado: 6 de abr. de 2022

Atualmente, muitas pesquisas têm abordado o tema, e produzido bons resultados. A seguir selecionamos um artigo que trata da utilização de compostos extraídos de plantas no combate às larvas dos mosquitos Aedes aegypti, vetores da dengue e outras arboviroses. Venha com a gente entender melhor.


Muitos medicamentos que usamos atualmente para tratar enfermidades são constituídos à base de plantas ou de substâncias químicas extraídas de plantas. O uso de compostos vegetais para fins médicos é relatado há centenas de anos e muitos estudos comprovam a efetividade deles no tratamento de doenças. Ainda assim, há muitas espécies de plantas com potencial biológico inexplorado.

Esses compostos fazem parte do metabolismo secundário das plantas, ou seja, atuam principalmente na defesa e proteção contra herbivoria e infecções microbianas. Apesar de recentes, os estudos sobre substâncias extraídas de plantas com potencial larvicida (que causa a mortalidade de larvas) para controlar o avanço de doenças transmitidas pelos mosquitos Aedes aegypti já estão mostrando bons resultados. As larvas, ao contrário dos mosquitos Aedes adultos, encontram-se em locais específicos onde há água acumulada, facilitando o controle através do uso de substâncias que as eliminem. Já os mosquitos adultos se ocultam em lugares de mais difícil visualização e, portanto, de mais difícil controle. Além disso, atuando no combate às larvas impedimos que o ciclo de vida dos mosquitos se complete, contribuindo assim para diminuir a transmissão das arboviroses.

Mas afinal, qual seria a vantagem de utilizar extratos de plantas no combate ao mosquito Aedes, ao invés de continuarmos utilizando os inseticidas convencionais? Em primeiro lugar, devido ao uso intensivo e descontrolado de praguicidas, muitos mosquitos estão se tornando resistentes aos métodos convencionais de controle, como inseticidas e repelentes, fazendo com que estes não apresentem mais o efeito esperado. Além disso, sabe-se que estes métodos possuem certa toxicidade ao meio ambiente e podem prejudicar outros organismos além das espécies-alvo, aumentando seus impactos sobre as relações ecológicas.

Os resultados que iremos mostrar a seguir foram obtidos a partir de um estudo que avaliou o potencial larvicida dos compostos extraídos de plantas de diferentes famílias e de sua composição química. Nessa pesquisa, foram avaliadas 49 substâncias de origem vegetal pertencentes a plantas de 4 famílias botânicas, além de outros compostos ativos distribuídos em outras 16 famílias.

Para os experimentos no qual o estudo se baseia foram utilizadas partes das plantas (como folhas, caule ou frutos) para extrair os compostos cujo potencial larvicida foi investigado. O extrato puro de cada um desses compostos foi diluído em menores concentrações. Além disso, os compostos obtidos de cada planta passaram por análises a fim de determinar seus constituintes. Por último, as larvas dos mosquitos foram colocadas em um ambiente aquático para que se desenvolvessem normalmente e, então, foram expostas a diferentes concentrações desses extratos, por 24 ou 48 horas, em condições controladas de laboratório, para avaliar como a concentração dos distintos extratos influenciou a taxa de mortalidade das larvas de mosquitos Aedes aegypti.

Os resultados do experimento foram avaliados aplicando os extratos de diferentes concentrações sobre ambientes aquáticos já com as larvas em desenvolvimento. Os compostos considerados mais eficientes são os que levam a uma maior mortalidade de larvas em menos tempo, e quando utilizados em concentrações mais baixas.

Da família Fabaceae, as espécies do gênero Lonchocarpus foram as que mais se destacaram por possuir ação larvicida. Da Família Rutaceae, que é muito citada na literatura por possuir ação larvicida e repelente, a espécie que mais se destacou foi Poncirus trifoliata, conhecida como limão-amargo. O gênero Piper foi o que mais se destacou na Família Piperaceae, especialmente a espécie Piper nigrum (pimenta-preta ou pimenta do reino). As substâncias larvicidas presentes na Família Boraginaceae foram encontradas apenas no gênero Cordia, com destaque para as espécies Cordia curassavica, C. linnaei e C. alliodora.


Lonchocarpus muehlbergianus - Família Fabaceae e Poncirus trifoliata - Família Rutaceae.

Fonte das imagens: http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_sp.php?img=826 e https://www.vdberk.com/trees/poncirus-trifoliata/ respectivamente.


Piper nigrum - Família Piperaceae e Cordia curassavica - Família Boraginaceae.

Fonte das imagens: https://fineartamerica.com/featured/piper-nigrum-science-photo-library.html e http://plantsoftheworldonline.org/taxon/urn:lsid:ipni.org:names:262640-2 respectivamente.


Na pesquisa, observou-se que os óleos extraídos da espécie Piper nigrum obtiveram grandes concentrações de amidas, um dos grupos de compostos orgânicos com maior potencial larvicida conhecido atualmente. Portanto, essa espécie é muito promissora na utilização como um praguicida. Os óleos extraídos das plantas das Famílias Rutaceae e Fabaceae apresentam grandes concentrações de flavonóides e rotenóides, respectivamente, que também são compostos químicos muito citados na literatura por apresentarem ação inseticida.

Todos os extratos anteriormente citados apresentaram atividade larvicida contra Aedes aegypti. No entanto, pode-se perceber que algumas espécies apresentaram melhores resultados, como Lonchocarpus chiricanus (Família Fabaceae), Derris trifoliata (Família Fabaceae), Poncirus trifoliata (Família Rutaceae), Piper nigrum (Família Piperaceae) e Cordia curassavica (Família Boraginaceae). Dentre as espécies vegetais analisadas, a que mais se destacou foi Poncirus trifoliata (popularmente conhecida como limão-amargo). Isso porque, mesmo em baixas concentrações, o composto extraído dessa planta foi eficiente para causar a mortalidade de 50% da população de larvas de mosquitos submetidos ao teste em 24h. Por outro lado, Calodendrum capense (popularmente conhecido como castanheira-do-cabo) foi a espécie que menos se destacou por exigir grandes concentrações do composto para causar uma mortalidade significativa de larvas.

Com isso percebe-se que os compostos extraídos de algumas plantas podem atuar como larvicidas contra Aedes aegypti. No entanto, apesar dos resultados se mostrarem muito promissores, estes experimentos são realizados como uma primeira etapa no desenvolvimento de praguicidas. Portanto, novos testes precisam ser desenvolvidos seguindo os protocolos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão que regulamenta produtos usados no controle de insetos. E vale enfatizar que dada a riqueza da nossa flora, há muitas plantas com o potencial ainda inexplorado, carecendo mais estudos sobre.


Saiba mais detalhes desse estudo e como foi desenvolvido os testes acessando o artigo completo em:

GARCEZ, Walmir Silva et al. Substâncias de origem vegetal com atividade larvicida contra Aedes aegypti. Revista Virtual de Química, v. 5, n. 3, p. 363-393, 2013. Disponível em: <http://rvq-sub.sbq.org.br/index.php/rvq/article/view/269>. Acesso em: 11 de jan. de 2021.



 

Por Quémili Brand


Referências


VIANA, G. A; SAMPAIO, C. G.; MARTINS, PESSOA, V. E. Produtos naturais de origem vegetal como ferramentas alternativas para o controle larvário de Aedes aegypti e Aedes albopictus. Journal of Health & Biological Sciences, v. 6, n. 4, p. 449-462, 2018. Disponível em: <https://periodicos.unichristus.edu.br/jhbs/article/view/2079>. Acesso em: 08 de jan. de 2021.


OLIVEIRA, Iêda Ferreira de. Caracterização molecular de membros de glutationa s-transferase da classe epsilon em processos biológicos de Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus (Diptera: Culicidae). 2014. 103 f. Tese (Doutorado em Biologia Animal) - Programa de Pós Graduação em Biologia Animal, Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2014. Disponível em: <https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/11884/1/TESE%20I%C3%AAda%20Freire%20Santos.pdf>. Acesso em: 07 de jan. de 2021.

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