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(Re) descobrindo a chikungunya

Atualizado: 14 de abr. de 2022

A chikungunya é uma arbovirose causada por um alfavírus da família Togaviridae, que é transmitido através da picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti ou Aedes albopictus infectada com o vírus. Ela é considerada uma doença de importância à saúde pública mundial. Isso porque o vírus causador apresenta grande capacidade de sofrer mutações, o que permite uma melhor adaptação a hospedeiros e resistência aos inseticidas usados no controle do mosquito vetor. Além disso, os vetores da doença parecem estar cada vez mais adaptados ao espaço urbano, dadas as condições que esses ambientes propiciam aos seus desenvolvimentos, ficando cada vez mais difícil de combatê-los.

Apesar da doença haver sido registrada no Brasil apenas recentemente, casos de chikungunya já são reportados há várias décadas em outros países. O vírus foi isolado pela primeira vez em 1953 na Tanzânia (continente africano), durante uma epidemia. Depois disso, vários surtos ocorreram em países africanos e asiáticos. A partir de 2005, modificações genéticas no vírus permitiram que o mesmo infectasse e fosse transmitido também pelos mosquitos da espécie Aedes albopictus (até então, a transmissão em ambiente urbano era atribuída apenas ao Aedes aegypti). Isso contribuiu para a expansão da área de ocorrência da doença para o Oceano Índico, Ásia e Europa. No mesmo ano, em uma epidemia ocorrida no Quênia, 40% da população foi infectada e muitos casos graves foram registrados, incluindo óbitos.

O primeiro caso autóctone, ou seja, de transmissão local, na América foi registrado em 2013, no Caribe. Em 2014, sistemas de vigilância de saúde pública registraram o primeiro caso no Brasil, no estado do Amapá. De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2020 divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, foram notificados no ano passado 48.316 casos prováveis de chikungunya e 11 óbitos em território nacional.


Sintomas


Os sintomas da doença estão relacionados com a origem do nome chikungunya significa “aquele que se curva” ou “aquele que se dobra” em uma língua falada em regiões da Tanzânia. Esses sintomas são o resultado de dores intensas e debilitantes nas articulações, que persistem por semanas e até por anos, o que diferencia a doença dos sintomas comuns às demais arboviroses. Outros sintomas recorrentes são dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele com coceira intensa. Porém, aproximadamente 30% dos casos não apresentam sintomas. Só se pode contrair a doença uma vez na vida, e depois de desenvolvê-la, a pessoa se torna imune.


Imagem 1 - Sintomas da chikungunya.

Fonte: https://opas.org.br/chikungunya/.


Tratamento


Não há tratamento específico para a chikungunya. Os medicamentos ministrados ao doente são paliativos, destinados a aliviar os sintomas. Recomenda-se repouso absoluto e hidratação. Ainda não há vacina para prevenir a doença.


Desafios e perspectivas


A principal forma de transmissão das arboviroses ocorre pelo ciclo urbano, mas há registros da transmissão também pelo ciclo silvestre em países da África e da Ásia, no qual o vírus chikungunya pode ser transmitido por várias espécies de mosquitos do gênero Aedes à macacos e/ou humanos que circularem em ambientes de mata fechada, ademais, o A. albopictus pode carregar o vírus das florestas (aonde ele normalmente vive) para o espaço urbano, dando início assim, ao ciclo enzoótico. Isso impossibilita a erradicação da doença, visto que é praticamente impossível controlar os focos de proliferação dos mosquitos em espaços inabitáveis. Outro agravo é a boa capacidade de mutação do vírus, além da resistência que o mosquito está criando em relação aos inseticidas convencionais usados no seu controle.

Torna-se imprescindível portanto, que adotemos um pensamento coletivo e reforcemos as medidas de prevenção, que incluem a eliminação de possíveis criadouros de mosquitos. A melhor prevenção é ainda impedir a proliferação do Aedes.


 

Por Quémili Brand


Referências


CHIKUNGUNYA: sintomas, transmissão e prevenção. Fundação Oswaldo Cruz, 2020. Disponível em: <https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/chikungunya-sintomas-transmissao-e-prevencao#:~:text=Chikungunya%20significa%20%22aqueles%20que%20se,%C3%81frica%2C%20entre%201952%20e%201953>. Acesso em: 24 de jan. de 2021.


DE ASSIS, Felipe Lopes. Evidências de um ciclo silvestre do Dengue vírus nas Américas. 2010. 51 f. Dissertação (Especialista em Microbiologia) - Programa de Pós-Graduação em Microbiologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2010. Disponível em: <https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-AC4E5Y/1/monografia_especializa__o.pdf>. Acesso em: 03 de fev. de 2021.


DONALISIO, Maria Rita; FREITAS, André Ricardo Ribas. Chikungunya no Brasil: um desafio emergente. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 18, p. 283-285, 2015. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rbepid/v18n1/1415-790X-rbepid-18-01-00283.pdf>. Acesso em: 24 de jan. de 2021.


MORRISON, Thomas E. Reemergence of chikungunya virus. Journal of virology, v. 88, n. 20, p. 11644-11647, 2014. Disponível em: <https://jvi.asm.org/content/88/20/11644.full>. Acesso em: 24 de jan. de 2021.


TAUIL, Pedro Luiz. Condições para a transmissão da febre do vírus chikungunya. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 23, n. 4, p. 773-774, 2014. Disponível em: <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742014000400020>. Acesso em: 03 de fev. de 2021.



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