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Armadilhas na coleta de insetos: por que e para que utilizá-las

Atualizado: 8 de ago. de 2022

Para conhecer os seres vivos que nos cercam, os cientistas utilizam técnicas de coleta que os ajudam a entender melhor sua distribuição, além do comportamento e interações de diferentes organismos, como plantas, insetos e microrganismos, nos diferentes ambientes onde vivem. A partir dessas informações, é possível saber, por exemplo, quais animais ou plantas se encontram em algum lugar e quais não, por que isso ocorre, como utilizam o ambiente, entre outras perguntas muito interessantes que a ciência faz diariamente.


Coletar é, de fato, uma forma muito utilizada para estudar a natureza, em particular os insetos. Após coletados, os insetos podem ser levados ao laboratório, onde serão futuramente estudados. Mas é claro que nem tudo precisa ser levado a um laboratório. Algumas vezes os insetos coletados são liberados no ambiente momentos após a coleta e identificação das espécies. Para coletar insetos, utiliza-se diferentes tipos de armadilhas, que podem oferecer alimentos, simular o ambiente onde vivem para atraí-los, ou até mesmo capturá-los no seu ambiente natural. E claro, nem qualquer armadilha atrai todo tipo de inseto, e nem serve para qualquer tipo de coleta. Então, como escolher a armadilha correta para o inseto que se espera capturar? Depende muito de qual organismo será estudado e do que se pretende saber sobre ele, se o inseto voa, nada ou rasteja, onde vive, ou mesmo em que fase do seu ciclo de vida se encontra.


Para entender um pouco melhor, vamos tomar como exemplo o ciclo de vida dos mosquitos Aedes, que são insetos holometábolos, ou seja, que passam por uma transformação completa durante seus ciclos de vida, começando como embrião que se desenvolve dentro de um ovo, que depois se torna uma larva (para saber mais sobre seu ciclo de vida clique aqui). Ao completar seu desenvolvimento, a larva se transformará em pupa, onde mudará seu aspecto completamente até se converter em adulto. A fêmea adulta é voadora e coloca seus ovos em recipientes com água (ou locais úmidos) para que possam se desenvolver adequadamente. A captura de ovos, nesta fase do ciclo de vida, pode ser feita utilizando ovitrampas, que são recipientes artificiais que servem como criadouros, permitindo que as larvas nasçam dos ovos depositados, e oferecendo a elas alimento e outros recursos para que se desenvolvam com normalidade. Assim, os ovos depositados podem ser retirados das ovitrampas para análise em laboratório, ou o pesquisador pode deixar que as larvas se desenvolvam para poder estudar essa fase do ciclo de vida do inseto. Essas larvas podem ser coletadas com ajuda de um dipper (também chamado de rede de imersão), que é um tipo de rede que filtra a água e retém as larvas em sua malha, facilitando sua coleta. Na próxima etapa de ciclo de vida, as larvas se transformam em pupas, fase na qual o animal não se alimenta mais e fica dentro de uma casca protetora até se transformar em um inseto adulto, que finalmente, após sair da água, vai procurar um parceiro para se reproduzir, e assim, começar o ciclo novamente. Esse adulto voador pode então ser capturado com diferentes tipos de redes manuais.


No caso de insetos atraídos pela luz, como as mariposas e mosquitos que usam pontos de luz, como a do sol no dia, ou da lua na noite, para se localizar no espaço, os cientistas usam lâmpadas com iluminação artificial para chamar a sua atenção e, assim, tentar atraí-los para as armadilhas (imagem 1). Para outros grupos de insetos, podem ser utilizadas armadilhas nas quais se oferece alimentos ou compostos químicos chamados essências voláteis, que evaporam rapidamente à temperatura ambiente e são carregados pelo vento com facilidade para atrair, por exemplo, um grupo de abelhas chamadas “abelhas das orquídeas"(imagem 2). Já para capturar insetos rastejantes, ou que vivem no solo, os pitfalls são bastante utilizados. Pitfalls são armadilhas compostas por recipientes que ficam inseridos no chão, geralmente protegidos da luz e da chuva, nos quais insetos como formigas ou besouros caem, ficam presos e não podem voltar ao solo (imagem 3). Insetos aquáticos como as larvas de libélulas, por outro lado, podem ser coletados utilizando redes e peneiras que são usadas para separar as larvas de mostras do solo de riachos ou de lagoas que ali moram (Imagem 4).


Imagem 1 - armadilha de luz

Imagem 2 - Armadilha de odor

Imagem 3 - Armadilha pitfall

Imagem 4 - Armadilha do tipo peneira


No caso do nosso projeto, estudamos insetos transmissores de arboviroses, entre eles os mosquitos do gênero Aedes, e outros como o Culex, o conhecido pernilongo. Para isso, utilizamos as ovitrampas (imagem 5), que, como explicamos anteriormente, simulam o ambiente adequado para que as fêmeas do mosquito depositem seus ovos e assim possamos coletá-los, ou permitir seu desenvolvimento para estudar outras fases do seu ciclo de vida. Dessa forma podemos monitorar a ocorrência e o tamanho das populações de mosquitos Aedes aegypti e de outras espécies para então, a partir dos dados obtidos, promover estratégias de controle.


Imagem 5 - Armadilha ovitrampa




 

Por James Giraldo, Elaine Soares e Ana Eleutério

Referência

Medlock, J., Balenghien, T., Alten, B., Versteirt, V., & Schaffner, F. (2018). Field sampling methods for mosquitoes, sandflies, biting midges and ticks. EFSA Supporting Publications, 15(6). Disponível em: <doi:10.2903/sp.efsa.2018.en-1435>

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