A dengue é uma arbovirose endêmica que afeta milhares de pessoas todos os anos no Brasil. A origem provável do Aedes aegypti remonta ao século XVII, sendo trazido em embarcações envolvidas em rotas de tráfico de pessoas escravizadas advindas do continente africano.
Apesar de o vetor desta doença ter sido considerado erradicado no país em meados do século XX, a dengue é uma doença multifatorial e carece de esforços para ser combatida, uma vez que não há uma vacina eficaz sobretudo àqueles que nunca entraram em contato com o vírus causador da doença.
Transmissão
A transmissão da doença ocorre através da picada da fêmea do mosquito Aedes contaminada com o vírus da dengue. Trata-se de uma doença sazonal, ou seja, mais frequente em determinadas épocas do ano. Por causa das especificidades do ciclo reprodutivo do Aedes, que depende essencialmente da presença de água parada para a oviposição e temperaturas elevadas para a eclosão dos ovos, essa dessa doença se manifesta principalmente em períodos quentes e chuvosos.
Além disso, o Aedes aegypti tem hábitos diurnos, estando mais ativo principalmente no início da manhã, enquanto no final da tarde permanece oculto em cantos escuros (embaixo de móveis) atacando as suas vítimas desprevenidas. Trata-se de um mosquito fortemente atrelado ao ambiente urbano, que se contamina com o vírus da dengue ao picar um indivíduo previamente infectado. Quando isso ocorre, esse mosquito torna-se vetor da doença pelo resto de sua vida, tendo, portanto, a capacidade de contaminar pessoas sadias.
O período de incubação do vírus no ser humano é de 3 a 15 dias. Após o contato, tem início a fase de viremia, em que o vírus se espalha por todo o corpo do hospedeiro induzindo uma resposta imunológica, a qual resulta na manifestação dos sintomas característicos da dengue.
Tipos de dengue
Apesar de os anticorpos produzidos pelo corpo contra o vírus da dengue serem imunizantes, ou seja, prevenirem a manifestação da doença em um contato posterior, não existe apenas um vírus da dengue.
Esse vírus, que pertence ao gênero Flavivirus, é um vírus de RNA envelopado, que possui quatro sorotipos distintos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 E DEN-4. Apesar de apresentarem uma proteção cruzada contra os demais sorotipos, essa é apenas temporária de forma que os anticorpos de memória (IgG) não conseguem neutralizar o vírus. Dessa maneira, uma pessoa pode, ao longo da vida, contrair dengue por até quatro vezes.
Sintomas
A pessoa infectada pelo vírus pode ser assintomática ou até apresentar sintomas que coloquem em risco sua vida. Ao contrário do que se pensa, os sintomas mais severos costumam se manifestar principalmente em indivíduos até 11 anos, sendo que os maiores riscos ocorrem na faixa dos 6 aos 12 meses de idade. Dentre as manifestações clínicas da doença, as mais comuns são a Dengue Clássica e a Febre Hemorrágica da Dengue.
Os sintomas mais comuns são: dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores nas articulações, dores musculares, cansaço excessivo e presença de erupções na pele, podendo apresentar nenhum ou o conjunto dessas manifestações.
Imagem 1 - Sintomas da dengue
Fonte: Arte/TV Globo (2019). Disponível em: < https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2019/11/25/dengue-infectologista-explica-os-tipos-da-doenca.ghtml>.
Manifestações hemorrágicas podem ocorrer nos casos de Dengue Clássica sem que tragam riscos de morte ao paciente. A prova do laço é importante para a triagem de um paciente suspeito. O resultado dessa prova será positivo se em um quadrado de 2 cm² desenhado na pele do paciente houver 20 ou mais petéquias (pontos vermelhos).
Imagem 2 - Ilustração de prova do laço em triagem de paciente suspeito de dengue
Fonte: Governo do Estado do Ceará (2020). Disponível em: < https://www.esp.ce.gov.br/2020/01/20/entenda-o-que-e-e-como-funciona-a-prova-do-laco/>.
Os casos mais severos de dengue são os de Febre Hemorrágica da Dengue, que, se não identificados e tratados de maneira adequada, podem evoluir para o óbito do paciente. Os critérios para classificação do paciente nessa modalidade da doença são: febre de até sete dias, contagem plaquetária deficiente (inferior a 100.000/mm³), tendências hemorrágicas (como as evidenciadas na prova do laço positiva) e extravasamento de plasma.
Tratamento
Não existe um tratamento específico para a doença, devendo ser administrados apenas os sintomas, sendo a boa hidratação uma parte fundamental desse processo. De qualquer forma, sob qualquer suspeita de dengue, é essencial que se procure uma unidade de saúde.
Vacina
Um estudo publicado em julho de 2018 pelo The New England Journal of Medicine acerca da eficiência da vacina contra a dengue nos diferentes sorotipos (positivo e negativo) elucidou resultados controversos. A vacina se mostrou eficaz na redução da incidência de hospitalização por dengue confirmada virologicamente (VCD) somente nos indivíduos que já haviam entrado em contato com o vírus da dengue antes de terem sido vacinados.
Os pacientes que não apresentam histórico prévio de contato com a dengue, por sua vez, ao serem vacinados e expostos ao vírus, apresentaram quadros mais graves da infecção do que aqueles que não foram vacinados. Por causa desse estudo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, mudou a recomendação da vacina, sendo contraindicada à pacientes soronegativos, ou seja, àqueles que nunca tiveram contato com o vírus da dengue.
Dessa maneira, o combate ao mosquito se faz essencial para interromper o ciclo de transmissão. A dengue é um problema de todos nós. Faça sua parte!
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Por Letícia Bottino
Referências
Dias LBA, Almeida SCL, Haes TM, et al. Dengue: transmissão, aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento. Medicina 2010; 43(2): 143-52.
MAGALHÃES, RCS. 2016. A erradicação do Aedes aegypti: febre amarela, Fred Sopere saúde pública nas Américas (1918-1968). Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2016. História e Saúdecollection, pp. 45-85. ISBN: 978-85-7541-479-8.
SRIDHAR, Saranya; LUEDTKE, Alexander; LANGEVIN, Edith; ZHU, Ming; BONAPARTE, Matthew; MACHABERT, Tifany; SAVARINO, Stephen; ZAMBRANO, Betzana; MOUREAU, Annick; KHROMAVA, Alena. Effect of Dengue Serostatus on Dengue Vaccine Safety and Efficacy. New England Journal Of Medicine, [S.L.], v. 379, n. 4, p. 327-340, 26 jul. 2018. Massachusetts Medical Society. http://dx.doi.org/10.1056/nejmoa1800820.
VACINA DENGUE: esclarecimentos. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 02/03/2018. Disponível em: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2018/vacina-dengue-esclarecimentos>. Acesso em: 27 de novembro de 2020.
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